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6 de junho de 2020 | Por: Wilson Smith

Uma edição importante e necessária, vale conferir!

Moda com essência

Conversamos com Tenka Dara, Diretora Criativa da Baobá-Brasil, marca pioneira da moda afro-brasileira

Ampliar conhecimentos é sem dúvidas a melhor forma de se despir dos preconceitos e estabelecer uma nova amplitude de sentidos. A inquietude criativa de Tenka Dara, à frente da Baobá-Brasil, tem aberto novos caminhos para moda afro-brasileira. A marca está no mercado há 14 anos e é fruto de uma conexão da Diretora Criativa com Moçambique. O momento de efervescência nos debates sobre a cultura negra conectou o TUDO a essa talentosa Designer que desenvolve mais do que roupas, existe uma proposta de mundo e de estética em cada peça.

Filha de dois importantes militantes do movimento negro, Tanka Dara, hoje aos 40 anos, se formou em Artes Cênicas e Comunicação, mas encontrou na moda um dos seus principais instrumentos de luta e resistência. Ao visitar sua mãe no ano de 2005 que vive em Moçambique, ela ficou completamente encantada com os tecidos africanos e voltou para São Paulo com o desejo de produzir algo com tudo que tinha visto e vivenciado. E foi desse encontro que nasceu a marca. Ela trouxe diversas capulanas para o Brasil, esse tecido multifuncional estampado com padrões africanos norteou suas criações que trazem a proposta afro-urbana com uma identidade e modelagem muito brasileira.

Foto: Renata Duarte

Nesses 14 anos muitas coisas aconteceram, a jornalista paulista migrou para o Rio de Janeiro na intenção de desenvolver seus trabalhos com comunicação visual. Inicialmente a marca que era um projeto em anexo, e começou de forma despretensiosa pelo gosto da criadora em se vestir e do desejo de ter roupas que a representassem, não demorou muito para perceber que existia uma demanda no mercado. Muitas pessoas queriam vestir essa identidade e em pouco tempo o que era uma experiência com roupas se transformou em uma loja e um negócio.

Tanka Dara tem uma narrativa muito forte, e entre os muitos ensinamentos ela destaca a moda como um ato político: “Estética é política, quando assumimos uma identidade no vestir levamos para um mundo um discurso, que é extremamente importante, o que escolhemos como fala no que a gente veste interfere no mundo, porque a roupa fala! Se você escolhe uma roupa que te deixe igual a todo mundo, você fez uma opção, mas quando escolhe uma roupa que fala sobre você, sobre o que acredita, sobre a sua identidade, a sua origem, a sua alma, você afirma para o mundo essa identidade e leva a possibilidade de viver essa pluralidade”, nos contou durante a entrevista.

A moda tem um papel extremamente importante na mudança e na construção do mundo, precisamos estar atentos ao que vestimos, ao que escolhemos comprar, e a criadora reforça a importância de consumir de pessoas e projetos que queremos verdadeiramente apoiar.

O mercado ainda é fechado para moda afro, é um segmento a parte da moda brasileira. “Não sei se tenho interesse real em fazer parte da moda brasileira, mas sim de interferir no que é a moda brasileira e isso é um grande desafio porque as nossas vozes ainda são apagadas, a nossa estética é vista como algo folclórico, como algo secundário”. No entanto é preciso mais do que nunca ter clareza que a identidade brasileira é determinada pela presença negra. Apoiar projetos como a Baobá-Brasil é desconstruir esse cenário tão eurocentrado e branco que temos na moda atualmente.

Em nossa coluna LIFESTYLE sempre queremos abordar a moda sob as perspectivas amplas, que englobem política, economia e questões sociais. Para uma melhor compreensão das temáticas. Diante do cenário acalourado sobre o racismo que estamos enfrentando convidamos o Historiador e Fotografo alagoano Roger Silva para lançar olhos sobre a imagem do negro no meio midiático. Confira:

“Historicamente a imagem de pessoas negras foram alvos de produção e reprodução, que em sua maioria não representavam de fato o ser negro. Em meados do século XIX, por exemplo, essas imagens foram convertidas em cartões de visitas, ganharam o mundo como itens de colecionadores, vendidas como souvenirs.

Uma espécie de simbologia imagética do poder da “civilização” do colonizador branco europeu. Passaram-se mais de um século pós-abolição da escravização e infelizmente, ainda não temos um protagonismo negro nos meios da comunicação visual, exceto com alguns casos isolados, como o da modelo britânica, Naomi Campbell por exemplo.

Ainda seguimos uma reta que preza pelo ideário da beleza greco-romana, referência adotada pela Europa colonizadora. É necessário compreender que a curva que essa reta está dando há alguns anos na área da produção da moda, se estenda, e nos traga no mínimo uma equiparação justa em relação aos rostos brancos que estampam esse mundo imagético da indústria da moda e de outros seguimentos que trabalham com a imagem técnica como ferramenta de propaganda e marketing.

Como isso pode se tornar uma realidade? Começando a reconhecer que esses rostos e corpos negros são tão humanos e necessários quanto os que dominam o cenário atual. Nesse sentido comecemos a valorizar de verdade a cultura negra, entendendo que ela não só faz parte de nós, como também pode e será uma imagem que gerará não só a autoestima do ser negro.

Ela fomentará renda para todos os envolvidos de maneira mais equilibrada e justa. Dando não só visibilidade a esses agentes, mas reconhecendo que esses corpos são tão lindos e necessários quanto os demais. E sem dúvidas são! Gerando assim uma oportunidade dessa imagem ser produzida e disseminada de uma forma que todos se vejam representados de uma maneira mais honesta e real.”

Nossa coluna acredita e torce por mudanças!

Instagram: @rogersilvafotos

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