Coloral: marca afroalagoana, criações que carregam força e representatividade
Alagoas é um solo fétil para muitos talentos, e no campo da moda não é diferente. O Suplemento TUDO ZIK entrevistou Mara Carolina de Lima Galvão, que é um dos talentos expoentes do nosso Estado. Aos 37 anos, Mara é formada em Letras pela UFAL (2008) e mestra em literatura e interculturalidade pela UEPB (2012). Professora de língua portuguesa e literatura brasileira há mais de 10 anos, também desenvolveu atividades nas áreas de cultura brasileira e educação para as relações étnico-raciais. Atualmente é professora na rede pública estadual de Alagoas e integrante do Coletivo Afrocaeté.
A diretora criativa e designer, Mara Carolina de Lima Galvão, da marca Coloral
A alagoana tem desenvolvido um trabalho sensível, mas dotado de muita força, sob a perspectiva da moda afroalagoana, com sua marca Coloral, que tem roupas e acessórios imersos em uma áurea de representatividade e atitude. Confira o interview exclusivo!
Que caminhos te levaram para trabalhar com o varejo de moda?
Sempre costurei para mim. Com o tempo fui produzindo para amigos e familiares a pedidos. A necessidade de comercializar as roupas começou quando as demandas aumentaram. E também a possibilidade de fazer do negócio uma renda extra me motivou a criar a marca.
Como se deu a fundação da Coloral?
A Coloral surgiu do fato de fazer minhas próprias roupas. Sempre costurei, mas com o tempo fui vendo a necessidade de vestir roupas que me representassem melhor, enquanto mulher negra, nordestina e alagoana.
Como você define o DNA da sua marca?
Coloral é uma marca afro alagoana que surgiu numa demanda pessoal e que acabei identificando como coletiva. É uma marca de Alagoas, que tem no nosso povo preto e nas nossas histórias muita inspiração e força. A marca busca valorizar nossas identidades através do vestir.
Sobre seu processo criativo, como funciona? O que te inspira?
Música, comida, artes, dança, literatura… A inspiração vem de todo lugar do nosso Estado que tenha uma história para contar. Vem da minha família e das histórias que queremos contar para nós e que se cruzam com outras do povo preto daqui. Meu celular está cheio de referências e num bloco de notas guardo ideias, frases e inspirações. A partir daí, construo a imagem do que tenho como base. Também pesquiso sobre o que vem sendo discutido na moda, o que está em voga, o que pessoas que fazem e consomem moda também discutem. É importante criar algo que faça sentido para um grupo, não somente para mim.
O que você deseja transmitir através do seu fazer de moda?
Acho que no momento ocupo um espaço numa parcela que vem trazendo para moda um olhar mais local. Contribuir para o fortalecimento da identidade afro em Alagoas é o que fortalece o trabalho da Coloral.
Quais os desafios de empreender na capital alagoana?
São muitos. Temos muitas marcas, muita bagagem, criatividade, mas ainda há desafios quanto a matéria prima, mão de obra e indústria. Muito disso ainda vem de outros estados. Os processos aqui são muito caros, então a gente precisa pensar e repensar para não ter tanta dor de cabeça.
Como tem sido a inserção das estampas africanas no mercado alagoano?
No caso das capulanas e outros tecidos africanos, apesar de ser uma demanda que existe há um bom tempo, ainda temos dificuldades em encontrar pessoas que comercializam o produto. Mas, desde que comecei a trabalhar sempre teve procura. Também percebi um aumento no número de marcas que fazem uso. Quando pensamos em estamparia, e no processo de produção de estampas próprias, ainda vemos poucas criações. Aqui na Coloral estou estudando essa possibilidade.
Sua marca tem um viés de força e representatividade, como essas características são inseridas desde a concepção até a entrega aos consumidores?
As estampas africanas deram esse pontapé inicial. São tecidos muito representativos, um uso que aponta para esse orgulho em ser negra/negro, que reforça a relação com a cultura africana e também dialoga com as identidades locais através de cores e gravuras que remetem a religiosidade de matriz africana, por exemplo. Mas, não ficamos apenas nas estampas. No ano passado, nossa coleção junina teve como inspiração o coco de roda; dentre as peças, tivemos uma saia com babado que me pedem até hoje para produzir. Também aproveitamos para trazer receitas típicas desse período e dentre elas o amendoim com charque, um prato que tem suas origens na comida quilombola, que foi assinada pelo Daniel Toledo, chefe da Okan. Somos uma marca de roupas e acessórios, mas entendo que a moda não está atrelada somente ao vestir. Na verdade, nos vestimos de muitas coisas para ser quem somos.
Tem alguma criação que gostaria de destacar?
No ano passado fiz os figurinos para o CD de membros do Coletivo Afrocaeté, e diferente de outros processos, foi uma construção coletiva pois procurei trabalhar interferindo minimamente na dinâmica do grupo. As roupas, as cores do tema, tudo foi pensado e discutido em conjunto. Digo isso porque é um espaço onde aprendi muito também, principalmente sobre cultura popular e a relação com o povo negro de Alagoas.
Quais os planos e objetivos para esse ano?
Em meio ao retorno mais intenso de atividades depois de um período confuso com a pandemia, tive a oportunidade de lançar uma coleção em parceria com a C&A e está sendo uma experiência incrível. Participei no ano passado de um edital, o Todes na Moda, cujo intuito era impulsionar empreendedores LGBTQIAP+ e foi um processo muito importante de crescimento para Coloral. Pude refletir mais sobre a marca e o que desejo para esse trabalho. Esse ano fomos convidados para essa collab e levei o filé alagoano para essa coleção. Queria muito trabalhar com o filé, e vi nesse projeto a oportunidade. Então, é um fruto que ainda estamos colhendo, mas já estamos felizes com muito do que vem sendo construído. Ainda temos trabalho a mostrar então quem quiser conhecer nossos passos sugiro acompanhar nossas redes!
Para ter acesso aos produtos os interessados podem acessar o perfil da marca no Instagram @coloral___ ou por mensagem no WhatsApp (82) 999861667. Pelas redes é possível ver os produtos disponíveis e no WhatsApp também é disponibilizado o catálogo com as peças.
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